Mostra de Cinemas Africanos tem filmes de 12 países no Capitólio

15/10/2019 08:52
SMC/Divulgação PMPA
hienas
Hienas de 1992 tem exibição em cópias recentemente restauradas

A Mostra de Cinemas Africanos, com curadoria de Ana Camila Esteves e Beatriz Leal Riesco, volta a Porto Alegre entre esta terça-feira, 15, e domingo, 20, na Cinemateca Capitólio Petrobras. Durante a semana, o público poderá conferir uma cuidadosa seleção de filmes africanos e afrodiaspóricos reconhecidos em grandes festivais e respaldados pela crítica e públicos internacionais.

A mostra reúne 15 títulos procedentes de 12 países, com atenção especial à produção contemporânea. A maioria dos filmes é inédita no Brasil. Ao total, são 13 longas e 2 curtas de ficção e documentário projetados na Cinemateca. 

A sessão de abertura contará com o longa-metragem Kasala!, autofinanciado, escrito, produzido, dirigido e filmado pela estreante Ema Edosio. O filme conta a alucinante história urbana de amizade e cumplicidade entre quatro jovens, apresentando um retrato fiel e cheio de humor da vida na cidade de Lagos. A sessão ocorre no dia 15, às 20h, com ingressos a R$ 16 (inteira) e R$ 8 (meia) - valores aplicados a todas as sessões.

A Mostra de Cinemas Africanos se estabelece como um evento itinerante que coloca o Brasil na rota de circulação dos cinemas produzidos na África e sua diáspora. O evento possibilita que o público brasileiro acompanhe anualmente os lançamentos da cinematografia do continente e que crie repertório sobre ela. A programação já passou por Salvador, Aracaju e São Paulo, e ocorre pela segunda vez em Porto Alegre. Ainda em 2019, será realizada em Poços de Caldas, em Minas Gerais. 
  
Homenage, a Djibril Diop Mambéty
Em reconhecimento aos pioneiros dos cinemas africanos, serão projetados dois longas de ficção do senegalês Djibril Diop Mambèty (1946-1998), tio de Mati Diop, primeira diretora africana negra a competir pela Palma de Ouro no último Festival de Cannes e vencedora do prêmio do júri. Do Mambéty, autor iconoclasta, irreverente e controverso, Touki Bouki (1973) e Hyènes (1992) são dois clássicos universais que serão exibidos em cópias recentemente restauradas e que ainda hoje ressoam por seus temas, mensagens e estilos cinematográficos.  
  
Atividades paralelas
A sessão de abertura da Mostra de Cinemas Africanos contará com um comentário pós-sessão da curadora Ana Camila Esteves sobre o cinema nigeriano contemporâneo. Após a exibição de Kasala!, a pesquisadora conversa com o público sobre as novas propostas estéticas que desafiam a lógica da indústria conhecida como Nollywood, além de abordar o recente papel que a Netflix tem assumido no processo de difusão desses filmes.
  
Todas as sessões serão apresentadas por Ana Camila, que oferece ao público comentários gerais sobre as obras e seus contextos de produção. A programação conta ainda com o curso Cinemas Africanos Contemporâneos, ministrado pela curadora, que oferta aos interessados um panorama sobre as cinematografias africanas no contexto contemporâneo de produção e difusão. O curso será realizado nos dias 15 e 16, das 9h às 12h, na Sala Multimídia da Cinemateca Capitólio. As inscrições custam R$ 50 e podem ser feitas através deste link.   

Narrativas do cotidiano e imaginários alternativos de África
Com uma curadoria que ressalta a diversidade de gêneros e formatos dos cinemas africanos, a Mostra destaca em sua programação as experiências do cotidiano em grandes cidades africanas, absorvidas por culturas diversas que criam imaginários outros do continente através do cinema, com inovação e originalidade. 
  
O diretor sul-africano Michael Mathews apresenta uma estimulante alegoria em formato western (Cinco Dedos por Marselha). Já o longa Ame Quem Você Ama é um título exemplar da nova produção de cinema da África do Sul, assinado por Jenna Bass. Na região do Magrebe, temos uma história íntima e compassiva de um pai que reavalia sua vida ao se reencontrar com seu filho que abandonou do outro lado do Mediterrâneo (Look at Me, de Néjib Belkadhi). O longa, exibido no Festival de Berlim 2019, é um bom exemplo da força da indústria cinematográfica da Tunísia.
  
Diante do conjunto de heróis revolucionários de carne e osso que estiveram à frente das independências na África, o imaginário atual dos jovens africanos é composto por heróis dos quadrinhos e do cinema. Samantha Biffot, realizadora do Gabão, nos revela, no documentário O Africano que Queria Voar, o gabonês Luc Bendza, primeiro campeão negro de wushu da história. Sua paixão pelo Kung Fu o levou a seguir os passos dos seus heróis na ficção (Bruce Lee e Wag Yu) e voar para a China para realizar seu sonho e acabar trabalhando com Jackie Chan nas telonas.
  
O papel da música como ingrediente da identidade cultural e como espaço expressivo íntimo e de interação social são os fios que unem os documentários Bakosó – O Afrobeats de Cuba A Dança das Máscaras com o média-metragem Nora. Coreógrafa e bailarina de fama internacional, Nora Chipaumire volta ao seu país (Zimbábue) para compor um relato autobiográfico dançado, de imensa força comunicativa. De Moçambique, país vizinho, A Dança das Máscaras (Sara Gouveia) nos apresenta a Atanásio Nyusi, conhecido por sua destreza na dança tradicional Mapiko e nos convida a refletir sobre a história do país desde a colonização. Bakosó, de Eli Jacobs-Fantauzzi, nos coloca em contato com um novo estilo musical afro-cubano que está dominando as ruas de Cuba, fruto da abertura internacional do país e das possibilidades de conexão com a ancestralidade africana. 
  
A programação conta ainda com a produção ruandesa A Misericórdia da Selva, dirigido por Joël Karekezi. O longa conta a história de dois soldados ruandeses separados de sua unidade militar no início da Segunda Guerra do Congo e sua luta para sobreviver em um ambiente hostil na selva em meio a intenso conflito armado. O filme foi vencedor do maior prêmio do Fespaço 2019, mais importante festival de cinemas africanos na África. 

Também será exibida a comédia ganesa Keteke, de Peter Sedufia, um desdobramento da influência de Nollywood sobre seus países vizinhos. Estas duas sessões, são realizadas com o apoio do Instituto Francês e da Cinemateca Francesa.
  
Sobre as curadoras
Ana Camila Esteves (Brasil) é natural de Salvador-BA, bacharel em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, mestre e doutoranda em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela mesma universidade. No mercado da cultura desde 2009, atua na área de planejamento estratégico em comunicação e no desenvolvimento, criação, coordenação e execução de projetos culturais e corporativos. Como pesquisadora, atualmente cursa o doutorado na UFBA, onde estuda as narrativas do urbano nos cinemas africanos. Curadora colaboradora do Africa in Motion Film Festival (Escócia), idealizadora e curadora da Mostra de Cinemas Africanos (Brasil).
  
Beatriz Leal Riesco (Espanha) é pesquisadora, professora, crítica e curadora especializada em arte e cinema contemporâneos da África, Europa e Oriente Médio. Combina seu trabalho como conferencista e professora com a escrita jornalística e acadêmica em publicações como El País, Cinema Journal, Secuencias, Caracteres, Ars Magazine, Asymptote, Hyperion, Rebelión, Okayafrica y Écrans. Com residência entre os EUA e a Europa, desde 2011 é programadora do New York African Film Festival e África Imprescindible (Espanha). 


Mostra de Cinemas Africanos - Edição Porto Alegre
De terça-feira, 15 a domingo 20
Cinemateca Capitólio Petrobras
Demétrio Ribeiro, 1085
Mais informações: www.facebook.com/mostradecinemasafricanos
  
Programação
Terça-feira, 15
20h - Kasala!, (Nigéria, 2018)
Sessão comentada pela curadora Ana Camila Esteves

Quarta-feira, 16
18h30 - Nora (Reino Unido, Estados Unidos, 2018) + Bakosó - Afrobeats de Cuba (Cuba, 2019)
20h30 - Ame Quem Você Ama (África do Sul, 2014)
  
Quinta-feira, 17
18h30 - A Dança das Máscaras (África do Sul, Portugal, 2018)
20h - Cinco Dedos por Marselha (África do Sul, 2017)
  
Sexta-feira, 18
18h30 - Irmandade (Tunísia, 2018) + Lua Nova (Quênia, 2018)
20h30 - Sofia (Marrocos, Catar, França, 2018) 
  
Sábado, 19 Domingo, 20 
16h30 - A Misericórdia da Selva (Ruanda, França, Bélgica, 2018)
18h30 - Touki Bouki (Senegal, 1973)
20h30- Olhe pra Mim (Tunísia, França, Catar, 2018)
  
Domingo, 20 
16h30 - O Africano que Queria Voar (Gabão, 2016)
18h - Keteke (Gana, 2017)
20h- Hienas (Senegal, 1992)

 

Cleber Saydelles

Taís Dimer Dihl