Artigo: Pediatras de volta à Atenção Primária: uma necessidade urgente

02/07/2025 09:07

A Estratégia Saúde da Família revolucionou a atenção básica brasileira há três décadas, com médicos de família assumindo o cuidado integral. Os resultados foram expressivos: redução da mortalidade infantil e menos internações evitáveis. Contudo, a realidade atual exige adaptações.

Cidades como Porto Alegre enfrentam desafios complexos: alta densidade populacional, vulnerabilidade social e picos sazonais de doenças respiratórias infantis. O inverno traz sobrecarga que expõe limitações do modelo atual.

A proposta não é substituir o que funciona, mas complementá-lo. O retorno gradual de pediatras à atenção primária, trabalhando com médicos de família, representa reforço estratégico necessário.

Estudos da Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade demonstram que pediatras na atenção básica potencializam ações preventivas, melhoram acompanhamento de crônicos infantis e otimizam manejo precoce de síndromes respiratórias. Experiências no Canadá e Estados Unidos confirmam: modelos colaborativos aumentam satisfação das famílias e reduzem atendimentos de urgência evitáveis.

Os dados locais são convincentes. Em Porto Alegre, equipes com pediatras nas unidades básicas reduziram em mais de 90% os encaminhamentos infantis para filas de especialistas.

O Observa Infância da Fiocruz alerta: mesmo com ampla cobertura da atenção básica, os picos de internações respiratórias infantis persistem no inverno. A combinação de baixa vacinação, acesso limitado a especialistas e emergências sobrecarregadas reforça a urgência de fortalecer a pediatria na base do sistema.

O maior obstáculo é o financiamento. Faltam políticas nacionais e estaduais que apoiem os municípios. É fundamental que os governos reconheçam essa necessidade e destinem recursos para equipes multiprofissionais ampliadas.

A reintrodução planejada de pediatras na atenção primária não quebra paradigmas – adapta-se às demandas atuais. É evolução natural do sistema, resposta responsável aos desafios da saúde infantil contemporânea.

Fernando Ritter
Secretário municipal de Saúde

*Artigo publicado na edição de 2 de julho do jornal Zero Hora.

Bianca Dilly