Artigo: Pediatras de volta à Atenção Primária: uma necessidade urgente
A Estratégia Saúde da FamÃlia revolucionou a atenção básica brasileira há três décadas, com médicos de famÃlia assumindo o cuidado integral. Os resultados foram expressivos: redução da mortalidade infantil e menos internações evitáveis. Contudo, a realidade atual exige adaptações.
Cidades como Porto Alegre enfrentam desafios complexos: alta densidade populacional, vulnerabilidade social e picos sazonais de doenças respiratórias infantis. O inverno traz sobrecarga que expõe limitações do modelo atual.
A proposta não é substituir o que funciona, mas complementá-lo. O retorno gradual de pediatras à atenção primária, trabalhando com médicos de famÃlia, representa reforço estratégico necessário.
Estudos da Revista Brasileira de Medicina de FamÃlia e Comunidade demonstram que pediatras na atenção básica potencializam ações preventivas, melhoram acompanhamento de crônicos infantis e otimizam manejo precoce de sÃndromes respiratórias. Experiências no Canadá e Estados Unidos confirmam: modelos colaborativos aumentam satisfação das famÃlias e reduzem atendimentos de urgência evitáveis.
Os dados locais são convincentes. Em Porto Alegre, equipes com pediatras nas unidades básicas reduziram em mais de 90% os encaminhamentos infantis para filas de especialistas.
O Observa Infância da Fiocruz alerta: mesmo com ampla cobertura da atenção básica, os picos de internações respiratórias infantis persistem no inverno. A combinação de baixa vacinação, acesso limitado a especialistas e emergências sobrecarregadas reforça a urgência de fortalecer a pediatria na base do sistema.
O maior obstáculo é o financiamento. Faltam polÃticas nacionais e estaduais que apoiem os municÃpios. É fundamental que os governos reconheçam essa necessidade e destinem recursos para equipes multiprofissionais ampliadas.
A reintrodução planejada de pediatras na atenção primária não quebra paradigmas – adapta-se às demandas atuais. É evolução natural do sistema, resposta responsável aos desafios da saúde infantil contemporânea.
Fernando Ritter
Secretário municipal de Saúde
*Artigo publicado na edição de 2 de julho do jornal Zero Hora.
Bianca Dilly