Religião e natureza em harmonia urbana
É comum que os voluntários prefeitos de praça relatem preocupações sobre as oferendas deixadas nas áreas verdes da cidade. Trata-se de um tema delicado. A liberdade religiosa é um direito garantido pela Constituição e deve ser respeitada. Assim como os espaços públicos, que são de todos.Â
No entanto, a presença de oferendas em espaços públicos frequentemente gera polêmicas. Praças, parques e demais áreas verdes são bens coletivos, utilizados por pessoas de diferentes crenças, culturas e costumes. Por isso, é fundamental que rituais, cultos e oferendas estejam em harmonia com o meio ambiente e com a convivência comunitária. Uma sugestão é o recolhimento dos materiais após a realização do ritual, sempre que possÃvel. Essa prática ajuda a evitar conflitos e previne que os leigos confundam os elementos com lixo.
As religiões de matriz africana têm uma relação profunda com a natureza. Preservar as praças, parques, margens de arroios e demais áreas naturais é uma forma de respeito. Por exemplo, podem ser utilizados elementos da própria natureza como folhas de mamona ou bananeira em substituição a bandejas plásticas, além da preferência por materiais biodegradáveis em vez de plásticos, vidros e outros itens de difÃcil decomposição.
Essas orientações têm sido fruto de diálogo entre o poder público, prefeitos de praças e representantes das religiões afro-brasileiras. Em encontros realizados, muitas sugestões práticas foram compartilhadas por lÃderes religiosos. Uma delas é o plantio ou o enterramento das oferendas, evitando que fiquem expostas e gerem desconforto ou interpretações equivocadas.Â
O uso de velas também requer atenção redobrada. Acidentes como queimadas e incêndios já causaram danos irreparáveis à natureza. Por isso, é imprescindÃvel evitar o uso de velas próximas a árvores ou vegetação seca.
Respeitar a liberdade religiosa é um dever de todos nós. E isso inclui, também, promover práticas que garantam a preservação do meio ambiente e a boa convivência nos espaços de uso comum.
Regina MachadoÂ
Gerente do projeto Prefeitos de Praça
*Artigo publicado na edição de 29 de setembro no Jornal do Comércio
Lissandra Mendonça