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Fachadas ativas: a cidade voltada às pessoas

Patrícia Tschoepke, Diretora de Planejamento Urbano da Smamus
28/03/2024 10:20

O conceito de fachada ativa não é novidade. Todo mundo que circula ou já circulou por uma grande cidade o conhece, mesmo que intuitivamente. Em resumo, é aquele prédio com um pavimento térreo destinado a comércios, serviços e outros espaços, em uma área de uso misto, aberta à população.

Este modelo, conhecido por valorizar o espaço público e promover a convivência, está virando tendência nos novos empreendimentos, depois de um longo período de quase inexistência.
Em meados do século passado, o setor imobiliário e os atores envolvidos em planejamento urbano passaram a privilegiar muito mais empreendimentos com maiores recuos, grades e muros. Muito por questões de segurança diante de um boom demográfico, os edifícios foram dando as costas aos passeios públicos, e muitos bairros foram se tornando pouco amigáveis.
Entre as exceções da segunda metade do século passado estão edifícios icônicos como o Copan, em São Paulo, que até hoje servem como referência arquitetônica para quem pensa o desenvolvimento das cidades centrado nas pessoas.
Em 2014, o Plano Diretor de São Paulo recuperou esse recurso, classificando as fachadas ativas como "áreas não computáveis" dos novos empreendimentos. Na prática, isso permite às incorporadoras que aumentem suas metragens de construção em um terreno, desde que entreguem como contrapartida à comunidade acesso às facilidades e estabelecimentos instalados no local.

Essa tem sido uma das principais tendências de urbanismo na capital paulista nos últimos anos, e tem influenciado a maneira como as pessoas interagem entre si e com a própria cidade. Não é exagero dizer que a reintrodução das fachadas ativas nos projetos arquitetônicos está moldando o desenho urbano contemporâneo da maior metrópole das Américas.

Em Porto Alegre, temos visto isso também, e estamos trabalhando para incentivar cada vez mais a adoção desse modelo. Com projetos específicos como o Centro e o Programa 4D, de revitalização do 4º Distrito, demos passos importantes, mas queremos ir além. A nossa proposta é promover permanentemente o uso de fachadas ativas via legislação, pela revisão do Plano Diretor que está em curso.
Atualmente, nossa Capital não contabiliza em suas diretrizes urbanísticas como área construída o térreo de edificações, o que desestimula seu uso para fins comerciais. É uma questão na letra fria da lei que impede a expansão desse modelo que, na nossa visão, mudaria os rumos do desenvolvimento municipal. Para melhor.
Imagine você na sua vizinhança, com opções de lazer, de compras e espaços de encontro e convivência a poucos metros de distância, sem precisar pegar o carro ou outra condução. Alguns locais da cidade, como o Centro Histórico, o Bom Fim, Moinhos de Vento e Cidade Baixa, já dispõem desses benefícios, mas outros bairros, identificados por nós como "áreas a se consolidar", ainda não.

A intenção, claro, não é restringir a movimentação cotidiana por decreto, mas sim ampliar a infraestrutura das diferentes regiões através de estímulos ao melhor uso das edificações. Fachadas ativas são uma forma de reduzir o tempo de deslocamento das pessoas e de fortalecer a convivência nos espaços públicos.
Com regras claras de exploração comercial e respeito às particularidades de cada região, essa promoção do uso misto pode tornar Porto Alegre uma cidade mais vibrante, acolhedora e segura. Não podemos ter medo de crescer. Com um pouquinho de ousadia e visão, e com a assimilação dessas tendências das principais metrópoles, traremos a cidade mais para perto de seus moradores e construiremos um futuro com mais qualidade de vida para todos nós.

 

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(Fonte: Jornal do Comércio)