Mostra apresenta obras de Iberê Camargo sobre Porto Alegre

12/03/2022 07:39
Fábio Del Re/VivaFoto
CULTURA
Serão apresentadas 38 obras do acervo, entre pinturas e desenhos

Para celebrar os 250 anos da capital gaúcha, a Fundação Iberê inaugura, neste sábado, 12, às 11h, a exposição Iberê e Porto Alegre – No andar do tempo. Serão apresentadas 38 obras do acervo, entre pinturas e desenhos. A mostra propõe um passeio pelo olhar do artista por alguns locais, como o rio Guaíba, a Cidade Baixa, a Catedral Metropolitana, a Praça da Matriz, a Ponte de Pedra, a Rua da Praia, a Usina do Gasômetro, o Parque da Redenção e o pôr do sol. Algumas delas serão expostas pela primeira vez no atual prédio da Fundação. O evento integra o calendário oficial das comemorações do aniversário de Porto Alegre. 

Iberê - Nascido em Restinga Seca, 257 quilômetros distantes de Porto Alegre, Iberê sempre teve laços muito fortes com a Capital, como descreveu, em julho de 1970, na carta de agradecimento à Câmara de Vereadores pelo título Cidadão de Porto Alegre. “Foi nesta cidade, na igreja do Menino Deus, que recebi o batismo e o nome. Meu pai, então agente da estação de Restinga Seca, minha terra natal, escolheu a Capital do nosso querido Rio Grande como primeiro marco da minha humanização (...) Gosto de perambular, sonhando, pelas tuas mais antigas ruas cheias de sol e poesia. Olaria, Varzinha, Arvoredo - Oh! a rua da Praia dos encontros e dos namoros! Praça da Alfândega, do Portão, da Matriz... são ilhas cheias de verde e de luz. Nomes que nasceram da poesia popular e foram guardados na boca do homem, no tempo que torna as coisas sagradas. Lugares cheios de histórias... História do povo... história de gente... História simples da vida, do dia a dia em que cada um é herói, sem o saber. O caminho, amigos, é o rasto do homem. E o rasto é a sua história. Na trilha das gerações plasmam-se o ontem e o hoje. Cidade de Porto Alegre, perto ou distante, vejo-te refletida no Guaíba que tem feição de mar, onde todas as tardes o sol se esvai num lençol de sangue...â€. 

Ao final da vida, Iberê e Maria Coussirat Camargo se mudaram para o bairro Nonoai, na parte alta de Porto Alegre. O pôr do sol visto da janela de seu ateliê inspirava, por exemplo, o astro vermelho que se apresenta misteriosamente em um estudo e em um guache de sua fase final, e no alaranjado que inunda o fundo de sua última pintura, Solidão, realizada em 1994, ano do seu falecimento.

Eduardo Haesbaert e Gustavo Possamai, que organizaram a mostra, lembram que “em textos memorialísticos, Iberê mostra especial interesse pelas sangas, águas turvas e árvores retorcidas. São aspectos da paisagem que sempre o atraíram e que encontrará também em Porto Alegreâ€. É um pouco disso que se verá nas pinturas dos anos 1940, retratando o rio Guaíba e o antigo riacho da Cidade Baixa, e posteriormente a vegetação do Parque Farroupilha (Redenção). É interessante lembrar que, desde que teve hérnia de disco, em 1959, Iberê foi obrigado a trabalhar dentro do ateliê e só voltou a incluir a paisagem em suas pinturas após seu retorno a Porto Alegre, no início da década de 1980. É parte desse arco temporal que a exposição pretende apresentar.

“IbereÌ‚ retratou uma determinada praÌtica do espaço e uma cultura urbana, que se organizava ao redor de espaços do Centro da cidade e arrabaldes proÌximos nos anos 1940. Uma forma de cultura puÌblica, que englobava as elites e as camadas meÌdias urbanas, que circulavam pelo Centro da cidade no footing e nas compras nas lojas comerciais da Rua da Praia. Alguns artistas eram vistos nas esquinas, no meio do povo, no local onde estava concentrada a maioria das casas comerciais, das repartições puÌblicas, dos bancos, dos escritoÌrios, dos consultoÌrios, das lojas comerciais, dos hoteÌis, dos cafeÌs, dos restaurantes e ateÌ de algumas pequenas faÌbricas. O artista situa-se entre a pastoral da cidade moderna e o luto da velha cidade, que ia desaparecendo lentamente e cuja modernização se aceleraria muito na deÌcada de 1970, levando Porto Alegre a uma crise urbana e a necessidade de elaborar planos diretores e realizar cirurgias urbanas, que naqueles contextos fizeram aumentar a distaÌ‚ncia entre as elites e as classes populares, gerando segregação e desigualdades sociais na ocupação do espaço urbanoâ€, diz o pesquisador da PUC e pós-doutor em História Social e Cultural da Arte, Charles Monteiro.

Exposição Iberê e Porto Alegre – No andar do tempo
Artista: Iberê Camargo
Organização: Eduardo Haesbaert e Gustavo Possamai
Fundação Iberê – Ãtrio - Avenida Padre Cacique, 2000 – Cristal
Abertura: Sábado, 12, 11h
 

Cleber Saydelles

Gilmar Martins